Despir-se não é ficar nu, mas vestir-se apenas de você

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segunda-feira, 29 de junho de 2015

O PODER DE UMA BIRKIN COR DE ABÓBORA

Nunca pensei em ter uma Birkin. Não sou dessas de me deixar levar por grife e estou longe de ser uma fashionista - prefiro ser do grupo das estilosas. Mas quando vi aquela bolsa cor de abóbora, numa loja em Paris, foi amor à primeira vista.

Me custou os olhos da cara - não lembro ao certo, mas algo em torno de 40 mil reais. Na verdade, quem comprou foi uma amiga, que viajava a trabalho comigo, mas ela acabou revendendo a bolsa para mim, dias depois, de tanto que eu insisti, e ainda fez um desconto pois já a tinha arranhado.

Para quem não sabe, Birkin é um modelo ícone da grife francesa Hermès, que leva esse nome inspirada na modelo e atriz inglesa Jane Birkin (aquela linda, que aparece em fotos sensuais com um de seus maridos, o cantor Serge Gainsbourg). Ela vivia viajando de avião com uma bolsa de vime, aberta, parecendo um cesto, até que um dia esbarrou com Jean-Louis Dumas-Hermès, dono da marca à época, viu todas as suas coisas cairem no chão, e reclamou com ele que sofria tentando encaixar sua bolsa no compartimento de bagagens de mão do avião. Meses depois, recebeu o primeiro modelo de Birkin em sua casa.  A Birkin é feita completamente à mão, num único corte de couro que não pode conter uma imperfeição, num trabalho que pode levar de três dias a duas semanas para ser completado. Sem falar no tempo para encontrar o couro ideal.

Assim, diz-se que a produção da Birkin está diretamente relacionada aos humores da natureza.
Os da natureza eu não sei, mas o se seu uso pode alterar completamente os dos "humanos".

Com a mudança de SP/Lisboa para a Rio, em conjunto com a troca de profissão, de executiva para produtora de cinema, modelo e atriz - e consequentemente uma revolução no visual, com oito novas e significativas tattoos (só tinha duas muito pequenas e escondidas) -, ela acabou esquecida no armário. Até ressurgir como protagonista de uma história típica dos folhetins novelistas.

Instalada e com vida nova no Rio, comecei a namorar o filho de um banqueiro da alta sociedade. Ia tudo super bem com o namoro até eu descobrir que as minhas tattoos, misturadas ao meu jeito independente e descolado (e olha que ainda não tinha feito o Toplessaço e nem ensaio nu), e a falta de um sobrenome tradicional, eram motivo de bullying por parte da família e dos amigos mais próximos dele. Ele chegou a me dizer que, de fato, no seu universo as mulheres não tinham tatuagem. E que se eu tivesse um sobrenome de peso, poderia até compensar. Mas não era meu caso.

Como assim, em pleno século 21? E o rapaz tinha apenas 30 anos. 

A mãe só me chamava de "a mulher tatuada" e nem o fato de ter sido jornalista de mercado financeiro - inclusive já tinha entrevistado o pai dele - aliviavam a imagem que faziam de mim. Apesar de nunca ter dado importância à opinião alheia, fiquei chocada com o preconceito. E com a covardia do namorado diante da situação. Namoro em crise, um certo dia achei a Birkin no fundo do armário e resolvi colocá-la novamente em uso. Mas sem nenhuma pretensão.

Para minha surpresa, aquela peça em couro inteiriço - que só tinha um pequeno arranhão -  apagou, como um liquidpaper todas as minhas tattoos. E me deu um novo sobrenome. Do cabeleireiro, passando pelo dono do restaurante que frequentávamos, os amigos e até a "sogra", deixei de ser "a mulher tatuada" para ser "a menina da Birkin cor de abóbora".

Às vezes acho, tamanha a loucura, que eles pensam até hoje eu ser outra mulher. Nem o fato de ter virado a Musa do Topless parece ter mudado essa nova imagem.

O que essas pessoas não sabiam é que a mulher que eles tanto desprezaram era autêntica. Já a Birkin, fui descobrir só há poucos meses, falsa, apenas uma réplica perfeita.

Obs: lógico que o namoro acabou dias depois. E a Birkin virou minha companheira inseparável. 












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